sábado, 24 de julho de 2010

Cresçamos com os joios da vida!

Homilia Diária

Uma das maiores tentações que enfrentamos em nossa vida consiste na desconfiança acerca da nossa existência, ou seja, se verdadeiramente a nossa vida é mesmo um dom de Deus. Os sofrimentos sempre procuram levar o ser humano a um questionamento profundo: a minha vida (a semente) é boa? Esta vida (semente) é um dom verdadeiramente? Se é um dom, sendo Deus o Sumo Bem, de onde e por que vem o joio (o sofrimento)?

A primeira certeza que precisamos gestar e viver em nossa vida, urgentemente, é a de que eu existo para dar certo e tudo concorre para isso; a cruz é a maior prova desta verdade. Mas quanto ao joio (sofrimento), visto que de Deus só pode vir o bem, como ele surge na nossa vida? Surge das tantas vezes em que cochilamos diante da vontade de Deus em nossa vida; quando queremos existir de forma independente, sem a graça d’Ele; quando achamos que nos bastamos, fechando-nos a tudo aquilo que nos constrói enquanto pessoas nas realidades de valores e virtudes.

Mas a pedagogia de Deus – do pai da família, segundo a parábola – é algo surpreendente e maravilhoso; quando os servos tomam a iniciativa de arrancar de uma vez o joio, a primeira coisa que o pai diz é: deixai crescer junto com o trigo. Arrancai-o somente no momento da colheita.  Pensamos: “Meus Deus, como se não bastasse o fato de que o sofrimento (joio) nos faz tanto sofrer, ainda tenho que conviver um tempo com ele?” Humanamente falando não dá para entender. O pai justifica o fato com a preocupação de ser arrancado, com o joio, o trigo. Na vida é a mesma coisa: queremos agir no ímpeto e na euforia com o primeiro sofrimento que nos aparece,  pondo tudo a perder. Quando tomamos decisões na euforia ou na depressão, ou seja, nos extremos da nossa vida, é certeza de que a decisão será errada. O equilíbrio consistirá no tempo apropriado de permitir que o joio (sofrimento) cresça junto.

O trigo e o joio são duas plantas parecidíssimas, de forma que somente quem conhece a fundo estas duas plantas sabe diferenciar uma da outra. Na época da colheita, o que acontece? O trigo, que está carregado de seus frutos, [na época da colheita], pesa e seus ramos inclinam-se; em contrapartida, o joio, que não dá frutos, permanece reto, em pé. É exatamente neste momento que percebemos a fundo o que é trigo – está inclinado – e o que é o joio – está reto. O agricultor passa a mão por cima da plantação e vai puxando o joio, arrancando um a um, sem puxar o trigo, pois este se encontra abaixado.

Segundo a parábola, o joio arrancado é posto fora? Não, pois o pai da família pede que, arranque-o primeiro, o amarre em feixes e o guarde com muito carinho. Depois de ter feito todos os procedimentos com o joio, daí sim, recolhe-se o trigo e guarda-o no celeiro. Verdadeiramente que absurdo, humanamente falando. Como se não bastasse o fato de o joio ser algo mau, sofrimento, ainda guardá-lo com tanto carinho? Sim! Por quê? Vejamos. O homem do deserto – no tempo de Jesus – não possui lenha em abundância, como nós no Brasil, para poder cozer o pão. O que ele faz? Ele se utiliza do joio – guardado em feixes – para torná-lo combustível para que o forno seja aquecido para o cozimento do pão. Sem o calor – no caso, proporcionado pelo joio que é queimado – não tem como cozinhar o pão.

O que a parábola quer nos ensinar? Que devemos deixar de olhar para os “joios” da vida como sofrimentos que só podem nos fazer mal. Não, a sabedoria da parábola quer  nos levar a uma sabedoria de vida, ou seja, temos de aprender com o sofrimento; temos de nos perguntar diante de Deus: “Senhor, este sofrimento não vem de Ti, mas o que eu tenho e posso aprender com ele?” Para dizer que o sofrimento – que nunca vem de Deus – é uma escola, por excelência, de formação e de crescimento. Na vida ou aprendemos com o sofrimento – também – ou vamos continuar a sofrer muito mais. Infelizmente!

Padre Pacheco
Comunidade Canção Nova

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